quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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Seja bem vindo ao mais novo site da Igreja Adventista do Canaã, localizada na cidade de Maceió-AL, distrito do Farol, da Missão Alagoas (MISAL)!
Temos o prazer de anunciar que inicia-se agora uma nova geração no Ministério de Comunicação de nossa igreja, e este blog será dedicado à publicações e noticias referentes à igreja mais querida do Farol !
A equipe é a mesma do Jornal A Fonte de Esperança, o informativo impresso será entregue semanalmente no momento dos anúncios, dirigido pelo diretor de Comunicações - Aginaldo Alves.
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Arrependimento de Deus

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Arrependimento de Deus
Por Alberto R. Timm
A mesma palavra “arrependimento” (derivada do latim repoenitere) é usada nas traduções da Bíblia para designar tanto comportamentos humanos como atitudes divinas que são distintos em natureza, e que foram expressos por palavras diferentes nas línguas originais das Escrituras. O genuíno arrependimento humano para a salvação é descrito pelos termos hebraico shubh e gregos metanoeo (verbo) e metanoia (substantivo), que denotam uma mudança de mente, envolvendo tristeza, completo abandono do pecado e um sincero retorno a Deus.
Já o arrependimento divino é expresso através das palavras hebraica naham e grega metamelomai, que não sugerem qualquer mudança intrínseca na mente de Deus, “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1:17), mas apenas uma alteração em Sua atitude para as criaturas. Essa alteração é decorrente de uma mudança radical no comportamento humano, que acaba impedindo o recebimento por parte dos seres humanos de uma bênção divina que lhes fora prometida ou de um castigo divino que lhes deveria sobrevir.
O próprio Deus advertiu o Seu povo da condicionalidade de Suas bênçãos e de Seus castigos em Jeremias 18:7-10: “No momento em que Eu falar acerca de uma nação ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir, se tal nação se converter da maldade contra a qual Eu falei, também Eu me arrependerei do mal que pensava em fazer-lhe. E, no momento em que um falar acerca de uma nação ou de um reino para o edificar e plantar, se ele fizer o que é mal perante Mim e não der ouvidos à Minha voz, então, Me arrependerei do bem que houvera dito lhe faria.”
Esse princípio é claramente ilustrado na experiência dos antediluvianos e dos ninivitas. Em Gênesis 6:6 e 7 é dito que Deus “Se arrependeu” de ter criado a raça humana, não porque Ele houvesse mudado, mas porque os antediluvianos se haviam degenerado a tal ponto que a única solução para eles seria a sua destruição (ver Gn 6:5). Por semelhante modo, Jonas 3:10 diz que “Deus Se arrependeu do mal que tinha dito” trazer aos ninivitas, não porque Ele houvesse mudado, mas porque estes se converteram completamente de seus maus caminhos (ver Jn 3:5-9).
Por outro lado, quando a Bíblia diz que Deus não é homem para que Se arrependa (ver Nm 23:19; I Sm 15:29; Sl 110:4; Hb 6:17), ela está descartando a possibilidade de haver qualquer mudança intrínseca na pessoa de Deus, que O levasse a ser injusto e desleal em Seu relacionamento com os seres humanos (ver Dt 7:9 e 10). Em outras palavras, Deus é fiel e justo, e jamais deixará de recompensar as boas ações e de punir os maus atos, bem como de reconhecer todas as possíveis mudanças no comportamento humano.

O Arrependimento de Deus e do Homem

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O leitor da Bíblia ao chegar a passagens como Gênesis 6:6; I Samuel 15:11 e Jonas 3:10 que declaram que Deus se arrependeu e posteriormente confrontá-las com Números 23:19;I Samuel 15:29; Salmo 110:4 e Hebreus 6:17 que afirmam ser impossível que Deus se arrependa, pensará que existe grande contradição na Palavra de Deus quanto ao arrependimento divino.
Com a finalidade de dissipar dúvidas sobre a veracidade da palavra inspirada e para que declarações aparentemente conflitantes sejam esclarecidas esta monografia foi preparada.Para que este objetivo seja alcançado é necessário pesquisar diretamente nas línguas originais em que o Velho e o Novo Testamento foram escritos, porque estas nos fornecem elementos convincentes.

O Que é Arrependimento?

Afirmou Billy Graham que se o vocábulo arrependimento pudesse ser descrito com uma palavra, ele usaria o vocábulo renúncia. E esta renúncia seria o pecado.
O primeiro sermão pregado por Jesus foi: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Devemos a salvação unicamente à graça de Deus, mas a fim de que o sacrifício de Cristo na cruz do Calvário se torne eficaz ao crente, é preciso que ele se arrependa do pecado e aceite a Cristo através da fé.
O arrependimento é mencionado 70 vezes no Novo Testamento. Jesus disse: “. . . se, porém não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.”
Que significaria a palavra arrependimento para Jesus?
Qualquer um de nossos dicionários a definirá como “sentir tristeza, ou lamentar.” Porém, a palavra no original hebraico e grego tem uma conotação muito mais ampla por significar mais do que lamentar e sentir tristeza pelo pecado.
Arrependimento na Bíblia significa “mudar ou voltar-se”. A Palavra indica que deve haver uma completa mudança no indivíduo.
Pedro mostrou com seu arrependimento que estava disposto a transformar sua vida, a seguir uma nova direção. De outro lado, Judas entristeceu-se, sentiu remorso, mas não se arrependeu.
De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “arrependimento é sinônimo de compunção, contrição. Insatisfação causada por violação da lei ou de conduta moral e que resulta na livre aceitação do castigo e na disposição de evitar futuras violações.”
Como um termo teológico é o ato de abandonar o pecado, aceitando a graciosa dádiva da salvação de Deus, entrando para o companheirismo com Ele.
Arrependimento evangélico tem sido definido como mudança de pensamento, que leva a novo modo de agir. Em outras palavras, é a revolta consciente e definitiva do homem contra seu próprio pecado.
Arrependimento significa tornar-se outra pessoa. “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de medo algum entrareis no reino dos céus”. Mateus18:3.
Russell Norman Champlin assim define arrependimento:
1º) “É um ato divino que transforma o homem, mas que depende de reação positiva do homem, uma vez inspirada pela fé.”
2º) “É o começo do processo da santificação.”1
“Consiste de uma revolução naquilo que é mais determinativo na personalidade humana, sendo o reflexo, na consciência, da radical mudança operada pelo Espírito Santo por ocasião da regeneração.”2

Arrependimento no Velho Testamento

No hebraico são encontrados dois vocábulos para expressar a idéia de arrependimento.
1. hbb – Naham. É o arrependimento de Deus e corresponde ao grego metamélomai. As seguintes passagens bíblicas confirmam a sua existência. Gênesis 6: 6 e 7; Êxodo 32: 14; Jonas 3:9 e10.
Deus é imutável em seu ser, na sua perfeição e em seus propósitos. O arrependimento divino não traz mudança do seu ser, do seu caráter, mas apenas mudança em sua maneira de tratar com os homens. O arrependimento de Deus é uma referência à alteração que se realiza na sua relação para com o homem. O exemplo dos ninivitas nos ajuda a compreender o arrependimento de Deus. A cidade não foi destruída porque o povo se arrependeu de suas más obras. Deus mudou o seu tratamento devido à mudança operada no povo. O arrependimento de Deus (Naham) foi uma conseqüência do arrependimento do povo (Shubh).
Na International Standard Bible Encyclopaedia, vol. IV, pág. 2.558 se encontra a seguinte explicação:
“A palavra hebraica Naham é um termo onomatopaico, que significa dificuldade em respirar, como gemer, suspirar, e também lamentar, magoar-se, compadecer-se e, quando a emoção é produzida pelo desejo do bem dos outros, chega a significar compaixão e simpatia; quando, porém, se refere ao próprio caráter e atos, significa lastimar, arrepender-se. A fim de adaptar a linguagem à nossa compreensão, Deus é representado como alguém que se arrepende, quando retarda as penalidades que tem de aplicar ou quando o mal a sobrevir é desviado por ter havido uma reforma genuína (Gênesis 6:6; Jonas 3:10).”
II. dd` – Shubh – arrependimento do homem.
Este vocábulo hebraico corresponde ao grego metanoéo.
A palavra significa girar, voltar ou retornar, e é aplicada quando a pessoa deixa o pecado e se volta para Deus de todo o coração.
Se pecado etimologicamente significa falhar em atingir o alvo, desviar-se do caminho certo; arrepender-se é retornar ao caminho correto ou total retorno da pessoa a Deus.

O Arrependimento no Novo Testamento

Assim como há no hebraico duas palavras, uma para expressar o arrependimento divino e outra o humano, existem também em grego duas diferentes palavras para transmitir estes dois tipos de arrependimento.
I. O verbo usado em grego para o arrependimento de Deus é metamelomai – metamélomai.
Metamélomai pode ser traduzido por pesar, sentir tristeza, remorso, mudança de sentimento. Ter cuidado ou preocupação por alguém ou alguma coisa. Etimologicamente significa mudar uma preocupação por outra.
Possuindo Deus caráter e atributos imutáveis Ele é perfeito, logo não pode mudar nem para melhor nem para pior. No entanto, a imutabilidade divina não consiste em agir sempre da mesma maneira. Há casos e circunstâncias que podem ser alterados.
Strong nos esclarece sobre a imutabilidade de Deus:
“Deus, embora imutável, não é imóvel. Se Ele, coerentemente, segue um curso de ação segundo a justiça, Sua atitude precisa ser adaptada á toda mudança moral nos homens. A imutável santidade de Deus requer que Ele trate os ímpios diferentemente dos justos.
“Quando os justos se tornam ímpios, seu tratamento a respeito destes deve mudar. O sol não é volúvel ou parcial porque derrete a cera, enquanto endurece o barro; a mudança não está no sol, mas nos objetos sabre os quais brilha. A mudança no tratamento de Deus para com os homens é descrita antropomorficamente como se ocorressem mudanças no próprio Deus.”3
II. Metanoeo – metanoéo é o verbo usado em grego para o arrependimento do homem.
Dicionários e comentários nos informam que significa:
a) Uma mudança de mente, de pensamento
b) Literalmente significa pensar diferentemente.
c) Teologicamente a palavra inclui não somente mudança da mente, mas uma nova direção da vontade, propósito e atitudes.
O verbo metanoéo é usado em o Novo Testamento 32 vezes.
O arrependimento inclui três aspectos:
1º) O aspecto intelectual, ou seja, o reconhecimento, pelo homem, do erro de sua vida, sua culpa diante de Deus, sua incapacidade para, em suas próprias forças agradar a Deus. Sendo o homem um ser intelectual, Deus somente se agrada em ser adorado por meio de um processa racional.
2º) O aspecto emocional – tristeza pelo seu pecado como uma ofensa contra um Deus santo e justo. Os sentimentos não são equivalentes ao arrependimento, mas podem conduzir a um verdadeiro arrependimento, porque o verdadeiro arrependimento não pode provir de um coração frio ou indiferente.
3º) O aspecto da vontade ou volitivo – mudança de propósito, resolução íntima contra o pecado e disposição para buscar de Deus o perdão, purificação e poder. Este é o mais importante dos elementos, pois Deus pode apelar à pessoa para se converter, chamá-la ao arrependimento, mas como Deus dotou o homem com o livre arbítrio, somente este pode ou não aceitar o perdão divino; somente o próprio homem pode escolher arrepender-se ou não.
Apesar das ponderações anteriores, o arrependimento, no mais profundo sentido está além das forças ou do poder humano. Ellen G. White declara: “O arrependimento, bem como o perdão, são dons de Deus por meio de Cristo.”4
É importante compreender (como insiste Morris Venden, o autor de Meditações Matinais, 1981, nos dias 22 a 31 de maio) esta verdade fundamental. Não podemos primeiro arrepender-nos para depois ir a Cristo. Devemos ir a Ele como estamos e Ele irá transformar a nossa vida.
Paulo em Romanos 2:4 nos asseverou com muita objetividade que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento.
O arrependimento é um passo decisivo na vida do cristão, desde que a Bíblia no-lo apresenta como uma das condições para a salvação. As seguintes citações bíblicas corroboram para esta afirmação:
Mat. 3:1 e 2 – “Naqueles dias apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia, e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Mat. 4:17 – “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.”
Luc. 13:3 – “… Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.”
A Pena abalizada de Ellen G. White confirma a nítida distinção entre o arrependimento divino e humano.
“O arrependimento de Deus não é como o do homem. ‘Aquele que é a Força de Israel não mente nem se arrepende; porquanto não é um homem para que se arrependa.’ I Samuel 15:22. O arrependimento de Deus implica uma mudança de circunstâncias e relações. O homem pode mudar sua relação para com Deus, conformando-se com as condições sob as quais pode ser levado ao favor divino; ou pode pela sua própria ação, colocar-se fora da condição favorável, mas o Senhor é o mesmo, ontem, hoje e eternamente. Heb. 13:8.”5
“O arrependimento quando referente a Deus significa uma mudança de atitude, ou um voltar atrás. Nesse sentido é que a expressão é usada em I Sam. 18:8. Deus não modifica seu propósito, porém o homem, sendo um agente moral livre, pode modificar a realização do propósito divino. O relato de Jonas sobre a destruição de Nínive nos mostra que houve uma mudança de atitude com relação a Deus, e Ele também mudou Seu procedimento, isto é, arrependeu-se do mal de que lhes ameaçara.”6

Dois Exemplos Distintos de Arrependimento Encontrados na Bíblia

1º) O arrependimento de Pedro.
Após a negação do Mestre, quando o olhar compassivo e perdoador de Cristo lhe penetrou na alma, ele se rendeu à influência benfazeja do amor. Lucas 22:62 afirma que ele chorou amargamente. Esta é a tristeza que opera o arrependimento que conduz à salvação – II Cor. 7:9-10. O arrependimento de Pedro foi o metanoéo que modificou toda a sua vida. Ele estava triste por causa do seu pecado. Sua trágica queda por ocasião do julgamento de Cristo, seguida de seu arrependimento e subseqüente reabilitação, aparece como sendo o ponto de conversão de sua vida e caráter. Daí por diante, e com uma única exceção (Gál. 2:11-13), ele nos é apresentado como nobre apóstolo, com dignidade, coragem, prudência e firmeza de propósito.
2º) O arrependimento de Judas.
Em Mateus 27:3 se encontra o verbo metamélomai, que em algumas traduções aparece traduzido por arrepender-se, mas o seu arrependimento foi somente no sentido de tristeza ou remorso pelo seu pecado, e não no sentido de mudança de vida, de abandono do pecado. Essa tristeza segundo o mundo é a que opera a morte (II Cor. 7:10).
Judas não sentiu profundo pesar por haver traído a Cristo, mas tristeza por perceber que seus planos falharam.
O verbo metamélomai foi usado porque o seu arrependimento foi apenas mera tristeza, desespero, sem nenhuma mudança da mente (metanoéo).
Cristo sabia que o traidor não se arrependera verdadeiramente.
A pena inspirada confirma esta declaração:
“Até dar esse passa Judas não passara os limites da possibilidade de arrependimento. Mas quando saiu da presença de seu Senhor e de seus condiscípulos, fora tomada a decisão final. Ultrapassara os termos.”7

Conclusão

A idéia principal na afirmação de que Deus se arrependeu, nada tem a ver com falhas e pecados como acontece com o homem, mas apenas a sua mágoa com o mau procedimento humano e o seu desejo de sustar o curso do mal.
Rendamos sempre graças a Deus porque no seu infinito amor ele se entristece com o nosso pecado e muda o seu tratamento, quando nos arrependemos de nossas obras más.
Deus é imutável, mas a mutabilidade humana faz com que ele mude o seu trato para conosco.
Referências
1. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol. III, pág. 68.
2. O Novo Dicionário da Bíblia, vol. 1, pág. 141.
3. A Teologia Sistemática de Strong, pág. 124.
4. Testemunhos Seletos, de Ellen G. White, vol. II, pág. 94.
5. Patriarcas e Profetas, de Ellen G. White, pág. 630.
6. SDA Bible Dictionary
7. O Desejado de Todas as Nações, de Ellen G. White, págs. 654 e 655.
Extraído do livro “Explicação de Textos Difíceis da Bíblia” de Pedro Apolinário, Professor de Grego e Crítica Textual no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia.

Disciplina Eclesiástica: Evitando os Extremos

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A igreja deve agir em nome e na autoridade de Cristo.
A palavra disciplina vem do latim discere – “aprender” a mesma raiz da palavra “discípulo”1. Disciplina é “ensino, instrução, educação, submissão a um regulamento”2. No hebraico é musar (Dt 11:2; Pv 5:12; 15:10, etc), que, além de disciplina, significa também “instrução, advertência, castigo”3. “O termo musar significa ‘disciplina’ mas é mais que isso. [...] Ele ensina como viver corretamente no temor do Senhor”4. Já os escritores do Novo Testamento empregaram, entre outras, a palavra paidéia (Ef 6:4; 2Tm 3:16; Hb 12:5, 7, 8, 11, etc), com o significado de “treinamento” “disciplina” – do verbo paideuo, cujo significado é instruir, treinar, educar, corrigir (algumas vezes esse verbo é também empregado com o sentido de punir, castigar). É verbo utilizado para se referir à instrução de crianças,5 base para a palavra pedagogia – treinamento de uma criança.6 Paidéia, no Novo Testamento (especialmente nas epístolas paulinas), visa o mesmo que as Escrituras Sagradas, que é o “ensino, a repreensão, a correção e a educação [paidéia] na justiça” (cf. 2Tm 3:16)7.
Como visto, a idéia primeira da palavra disciplina não é castigar, punir (às vezes é empregada também com estes sentidos), mas sim ensinar, instruir, educar alguém. Assim, ao pensarmos em disciplina, deveríamos ter em mente que ela é, primeiramente, corretiva, e não punitiva. E esse deveria ser o objetivo de todo líder religioso ou membro de comissão de igreja (e das demais comissões) quando se reúnem para estudar casos em que a disciplina deve ser administrada a um membro do corpo de Cristo. A disciplina nunca deveria parecer vingança contra alguém.8
É fato que a igreja tem o direito e o dever de disciplinar seus membros. Tal autoridade foi-lhe dada pelo próprio Cristo, quando disse aos Seus discípulos (e por extensão à Sua igreja): “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra terá sido ligado nos Céus, e tudo o que desligardes na Terra terá sido desligado nos Céus” (Mt 18:18). Assim, a igreja age em nome e na autoridade de Cristo mesmo, e o espírito por trás da disciplina deve também ser o de Cristo – de corrigir, elevar, restaurar e curar.
O ideal é que nenhum membro precisasse ser disciplinado. Mas como a igreja é composta por pessoas que ainda têm a natureza carnal, vez ou outra, elas cometem pecados. Alguns casos são resolvidos entre o pecador e Deus; outros, entre ofensor e ofendido, e que não trazem opróbrio sobre a igreja. Nesse caso, a disciplina eclesiástica não é necessária. Mas há pecados que, quando vêm a público, escandalizam grandemente os irmãos, atentam contra o bom nome da igreja e suas normas, e a expõem negativamente perante os descrentes. Nessa circunstância, cabe disciplina eclesiástica, para que sejam preservados o bom nome da igreja e as normas cristãs. “Deus considera Seu povo como um corpo, responsável pelos pecados que existem em indivíduos em seu meio. Se os dirigentes da igreja negligenciam buscar com diligência os pecados que trazem o desfavor de Deus sobre a corporação, eles se tornam responsáveis por estes pecados.”9
Mas, nessa questão da disciplina eclesiástica, há dois riscos: de um lado, a indulgência, ou seja, não ser firme e pronto em tratar com os pecados dos irmãos; e do outro lado, aplicar a disciplina com um espírito farisaico e destituído de amor. Indulgência é misericórdia sem justiça, farisaísmo é justiça sem misericórdia. Esses dois extremos são mais bem explicitados com as situações de pecado entre os irmãos da igreja de Corinto, relatadas em 1 Coríntios 5:1-13 e 2 Coríntios 2:5-11. Analisemos esses versos paulinos e tiremos as lições que eles contêm quanto ao assunto da disciplina eclesiástica.

Um extremo: misericórdia sem justiça

I Co 5:1-13 – Um membro da igreja de Corinto havia cometido “imoralidade” (5:1) com a “mulher de seu próprio pai” – não a mãe do rapaz, mas sua madrasta ou uma concubina de seu pai.
A palavra grega traduzida por ”imoralidade” é pornéia, e pode ser empregada, em sentido amplo, para designar qualquer ato sexual ilícito. Aqui , no contexto de 1 Coríntios 5:1-13, ela deve ser entendida como ”fornicação” (sexo praticado por pessoa solteira), “prostituição” e “imoralidade” Deve-se notar que o fato de Paulo não empregar a palavra moichéia (adultério), e sim, pornéia, talvez possa indicar que o pai do rapaz já fosse falecido. Tratava-se, portanto, de um caso de incesto, condenado tanto pelas leis judaicas (ver Dt 22:30; 27:20), quanto pelas romanas.10
Face à gravidade do pecado de um de seus membros, o que fez a igreja de Corinto? Nada, nenhuma tentativa para resolver a situação. Ao contrário: andavam “ensoberbecidos” (ICo 5:2), ou seja, em vez de baixarem a cabeça e ficarem envergonhados pelo ocorrido, estavam cheios de orgulho espiritual (isso não quer dizer que aprovavam o ato do rapaz, mas que, apesar da gravidade do ato, ainda se sentiam orgulhosos espiritualmente). E, como conseqüência, nem chegaram a se lamentar pelo ocorrido (5:2).
Devido à indulgência e frouxidão da liderança e dos membros da igreja de Corinto, Paulo ordenou-lhes que o ofensor fosse “tirado” do meio deles (5:2), ou seja, fosse desligado da igreja (cf. Mt 18:18). Além disso, que também fosse “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor [Jesus]” (5:5). Essas são palavras fortes, mas apropriadas ao caso. “Ser entregue a Satanás” aqui, equivale a ser “tirado” ou desligado do corpo de Cristo – a igreja. Como só há dois reinos, o de Cristo e o de Satanás, o jovem deveria ser ”posto” onde ele mesmo já se encontrava: no reino do inimigo. Isso deveria causar um choque ao ofensor, fazê-lo compreender a enormidade e gravidade de seu ato, e levá-lo ao arrependimento. Mas como a igreja nada fizera para discipliná-lo, ele estava no reino de Satanás, pensando estar ainda no reino de Deus. Se o moço aceitasse a disciplina, confessasse seu ato e dele se arrependesse, poderia ter “sua carne destruída” – expressão de difícil entendimento, mas provavelmente se refira à situação de se vencer as tentações carnais que levavam esse rapaz ao pecado. Se ele fosse um vencedor de suas tendências imorais e fornicarias, seu “espírito” (ele mesmo) seria salvo “no Dia do Senhor” (uma referência à segunda vinda). E se isso ocorresse, estaria cumprido o objetivo maior de toda disciplina: a conscientização e salvação do ofensor.

O outro extremo: justiça sem misericórdia

2 Co 2:5-11 – Em sua segunda epístola à igreja de Corinto, Paulo fala de alguém que pecara, fora disciplinado, mas fora também banido do amor e da simpatia dos membros da igreja (2Co 2:5-11) – uma situação exatamente oposta àquela mencionada em sua primeira carta, como foi visto.
De acordo com 2 Coríntios 2:5, o ex-membro havia causado “tristeza” à igreja (não nos é dito o que ele havia feito). Alguns o identificam com o jovem fornicário de 1 Coríntios 5:1-13), que fora disciplinado “pela maioria” (2:6) – procedimento correto adotado, visto que a disciplina é ministrada não por uns poucos membros, nem ainda pela comissão da igreja (que apenas estuda o caso e recomenda a disciplina), mas pela maioria dos membros da igreja, presentes a uma reunião administrativa devidamente convocada.11
Pelo relato paulino, vê-se que a disciplina cumprira seu propósito de conscientizar e levar o ofensor e ex-membro à confissão e ao arrependimento. Ele estava triste pelos atos praticados. Mas sem o perdão, conforto, amor e simpatia de seus irmãos de fé, estava sendo “consumido por excessiva tristeza” (2:7). Esse é um caso típico de “zelo sem entendimento” de justiça sem misericórdia. Se no caso do moço fornicador de 1 Coríntios 5 faltou firmeza e justiça (aspecto firme do amor), no caso mencionado na 2a carta aos Coríntios faltou misericórdia (a face suave do amor) e sobrou zelo farisaico. A verdade é que, por sua atitude penitente e arrependimento, o irmão disciplinado merecia nova chance. Por isso, Paulo roga aos irmãos de Corinto: “Que confirmeis para com ele o vosso amor” (2:8). E, em assim fazendo, não permitiriam que Satanás (o instigador de todo o mal) alcançasse vantagem sobre a igreja (2:11). O fato é que Satanás alcança vantagem quando a igreja é omissa e frouxa quanto à disciplina, bem como quando ela disciplina com um zelo destituído de amor. A frouxidão embala o membro com uma falsa segurança quanto à sua salvação, enquanto o zelo farisaico impede o retorno do irmão arrependido.
“Quando a pessoa que errou se arrepende e se submete à disciplina de Cristo, cumpre dar-lhe outra oportunidade. E mesmo que se não arrependa e venha a ficar colocada fora da igreja, os servos de Deus têm o dever de envidar esforços com ela, buscando induzi-la ao arrependimento. Se a pessoa se render à influência do Espírito de Deus, dando evidência do seu arrependimento, confessando e renunciando ao pecado, por mais grave que tenha sido, deve merecer o perdão e ser de novo recebida na igreja. Aos seus irmãos compete encaminhá-la pela vereda da justiça e tratá-la como desejariam ser tratados em seu lugar, olhando por si mesmos para que não sejam tentados de idêntico modo.12
Pelo visto, os irmãos de Corinto, ao tratarem do caso desse irmão que havia causado tristeza à igreja, demonstraram sofrer de SIMV – Síndrome do Irmão Mais Velho – , relatada em Lucas 15:25, cujos sintomas são um coração cheio de ira (Lc 15:28), queixoso (15:29) e condenador (15:30), em relação ao irmão que saiu de casa, mas que voltava arrependido. Enquanto uma festa acontecia dentro de casa para comemorar a volta do irmão desgarrado, o irmão mais velho preferiu ficar no alpendre. Será que o pai conseguiu persuadi-lo a entrar? A parábola deixa essa questão em aberto, justamente para que cada ”irmão mais velho” (membro da igreja que nunca precisou ser disciplinado) diga se participará da festa quando um membro faltoso se arrepende e retorna, ou se ficará no alpendre do farisaísmo e da falta de simpatia e amor.

Razões para a Disciplina dos Membros

1. Negação da fé nos princípios fundamentais do evangelho e nas doutrinas básicas da Igreja, ou o ensino de doutrinas contrárias a eles.
2. Violação da lei de Deus, tal como a adoração de ídolos, homicídio, roubo, profanação, jogos de azar, transgressão do sábado, e falsidade voluntária e habitual.
3. Transgressão do sétimo mandamento da lei de Deus, pelo que diz respeito à instituição matrimonial , ao lar cristão e às normas bíblicas da conduta moral.
4. Transgressões tais como fornicação, promiscuidade, incesto, prática homossexual, abuso sexual de crianças e de adultos vulneráveis e outras perversidades sexuais, e novo casamento de pessoa divorciada, exceto o cônjuge que permaneceu fiel ao voto matrimonial num divórcio causado por adultério ou perversões sexuais.
5. Violência física, inclusive violência na família.
6. Fraude ou deliberada falsidade no comércio.
7. Procedimento desordenado que traga opróbrio sobre a igreja.
8. Adesão ou participação num movimento ou organização separatista ou desleal.
9. Persistente negativa quanto a reconhecer as autoridades da igreja devidamente constituídas, ou por não querer submeter-se à ordem e à disciplina da igreja.
10. 0 uso, a fabricação ou a venda de bebidas alcoólicas.
11. 0 uso, a fabricação ou a venda do fumo em qualquer de suas formas para consumo humano.
12. 0 uso indevido ou o tráfico de narcóticos ou outras drogas.

Aplicando a Disciplina

É esperado que os membros de uma comissão de igreja (ou qualquer outra) tenham procedimento ético, prontidão e delicadeza na administração da disciplina, que avaliem e decidam com base em fatos, que não comentem com os demais irmãos da igreja assuntos tratados nas reuniões de comissão. Do membro a ser disciplinado é esperado o reconhecimento da seriedade de sua falta e acatamento da disciplina, arrependimento, mudança de conduta (e em caso de remoção, que retorne ao seio da igreja). De todos os membros da igreja se espera que tenham atitude firme, mas perdoadora para com o membro disciplinado, e que continuem mantendo interesse no bem-estar espiritual dele. Uma visita de vez em quando fará muito bem a ele, fazendo-o ver que seus irmãos de fé ainda o amam, apesar do ocorrido. Se, após análise detalhada e exaustiva do caso, a comissão da igreja entender que o ofensor deva ser disciplinado, ela encaminhará a recomendação de disciplina à igreja, que a votará em uma reunião administrativa, devidamente convocada. A aprovação (ou não) da recomendação para a disciplina se dará pelo voto da maioria. No caso da disciplina ser a remoção, a notificação deverá ser feita por escrito e entregue, de preferência, pelo pastor ou por alguém designado pela comissão da igreja, o qual deve assegurar ao removido que Deus e a igreja sempre esperarão por seu retorno. Em conclusão a esse assunto tão espinhoso, mas ao mesmo tempo tão necessário para a preservação das normas bíblicas e para uma vida espiritual sadia, deveríamos sempre nos lembrar de que: (1) somos todos pecadores, e assim não deveríamos nos julgar superiores aos irmãos que erram e são disciplinados. Como diz Paulo: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”(1 Co 10:12), e (2) devemos tratar os outros assim como gostaríamos de ser tratados. De acordo com a Regra Áurea,”tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles”(Mt 7:12).

Tipos de Disciplina

Basicamente, há dois tipos de disciplina eclesiástica:
1) Censura: de um a doze meses, aplicada àqueles que cometem atos que merecem a desaprovação da igreja, mas que se arrependeram profundamente e fizeram confissão espontânea. Tal disciplina tem o duplo propósito de manifestar a desaprovação da igreja, bem como dar tempo ao ofensor de corrigir sua conduta. Enquanto durar o tempo da censura, o membro não pode participar publicamente dos cultos, nem ensinar em uma classe da Escola Sabatina, por exemplo. Mas não deve ser privado de assistir às reuniões da igreja. Uma vez terminado o tempo da censura, e havendo o ofensor dado mostras de mudança de comportamento, ele volta à plena comunhão com a igreja, sem necessidade de qualquer outro voto.
2) Remoção: aplicada em casos de flagrante violação da lei de Deus, especialmente quanto a pecados de fornicação (sexo praticado por solteiros), adultério, todos os atos de indiscrição moral, além de outros pecados que trazem opróbrio público sobre a igreja. Nesses casos, a remoção é necessária para a proteção do bom nome da igreja e das normas cristãs. Quando o membro removido der provas de estar de acordo com as normas e ensinos da igreja, ele ou ela retorna geralmente pelo rebatismo.

Referências

1. Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico da língua Portuguesa (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982), p. 268.
2. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário Aurélio da língua Portuguesa, 3a ed. (Curitiba: Editora Positivo, 2004), p. 684.
3. W. E.Vine, Dicionário Vine (Rio de Janeiro: CPAD, 2003), p 153.
4. Ibid.
5. F. Wilbur Gingrich Léxico do Novo Testamento Grego/Português (São Paulo: Vida Nova, 1993), p. 153.
6. W. E. Vine, Dicionário Vine, op. cit-, p. 153.
7. Gerhard Friedrich, Theological Dictionary of the NewTestament, v. 50 (Grand Rapids: Eerdmans, 2006), p. 623.
8. Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3 (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1985), p. 201.
9. Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja,v. 3 (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2002), p. 269.
10. R. N. Champlin, 0 Movo Testamento Interpretado, v. 4 (São Paulo: Candeia, 1995), p. 68,69.
11. Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia, edição revisada em 2005 (Tatui: Casa Publicadora Brasileira, 2006), p. 197.
12. Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1993), p. 502.
Artigo de Ozeas Caldas Moura, doutor em Teologia Bíblica e editor na Casa Publicadora Brasileira, publicado na Revista Adventista de Julho/2008.

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